Eleições municipais no Brasil 2020

Eleições municipais no Brasil 2020

O clima da campanha eleitoral teve no Brasil um contexto fortemente polarizado entre a extrema direita bolsonarista e por outro lado o anti-bolsonarismo. Observo que o ambiente criado durante a campanha para as eleições de 2018 presidencial, para o Congresso (Senado e Câmara dos Deputados Federais) e para os governos dos estados e suas Câmaras de Deputados Estaduais onde a extrema direita se apresentou como via de moralidade baseada em seu apoio a Operação Lava Jato usando essa como cabo eleitoral com conivência de seus chefes, cito o juiz Sérgio Moro como exemplo, não conseguiu se repetir.

Os partidos de extrema direita ou os candidatos apoiados pelo presidente Bolsonaro, que está sem partido, tiveram um desempenho muito ruim, tendo grandes derrotas. Partidos da direita tradicional ganharam grandes cidades ou estão no segundo turno, esta direita tradicional voltou a ter uma relevância no cenário politico nacional. No Brasil as cidades com mais de 200 mil eleitores podem ter segundo turno se o candidato vencedor não obtiver pelo menos 50 % dos votos válidos mais 1 voto, se houver então segundo turno vão para esse os dois candidatos mais votados do primeiro turno.

O governo de Jair Messias Bolsonaro já apresenta um forte desgaste devido a pandemia do coronavírus, onde não acreditando na doença agiu como agente sabotador de seu próprio Ministério da Saúde, falta de medidas concretas e planos de governos para melhorar o crescimento econômico e combater a pobreza e o abismo social no brasil, no país voltou a crescer a taxa de extrema pobreza  devido as politicas de concentração de renda. Uma administração caótica, desarticulada, que não parece ter um rumo bem definido, dividida entre militares apoiadores de Bolsonaro e uma ala ideológica de extrema direita que se baseia no apoio incondicional ao Presidente dos Estados Unidos Donald Trump, a na negação da ciência e a na sua perseguição a arte, a cultura e a educação.

O governo de Jair Messias Bolsonaro já apresenta um forte desgaste devido a pandemia do coronavírus, onde não acreditando na doença agiu como agente sabotador de seu próprio Ministério da Saúde

Passada a eleição já começamos a vislumbrar ares de mudança, como disse antes o apoio do presidente Bolsonaro quase em sua totalidade não serviu de nada, seus candidatos foram quase todos derrotados e poucos ainda vão participar do segundo turno e a maioria mesmo assim com poucas chances de vitória. Nessa eleição então houve um refortalecimento da direita tradicional, e da centro-direita, os partidos de centro-esquerda e esquerda voltaram a ter um protagonismo em muitas grandes cidades partidos como PcdoB (Partido Comunista do Brasil) e PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) de extrema esquerda estão no segundo turno em capitais importantes como Porto Alegre e São Paulo, o PT (Partido dos Trabalhadores) do presidente Lula ainda não conseguiu se reerguer e acho difícil que isso ocorra caso não haja uma mudança brusca no intento de se assumir os erros e fortalecer novos quadros do partido para eleições vindouras.

Considero que a grande derrotada dessa eleição foi a extrema direita e o presidente Bolsonaro, já na esteira da derrota de Trump, e abre uma nova perspectiva para as eleições de 2022, o Brasil estará mais preparado para o populismo extremamente conservador e reacionário, baseado em ideias antigas e superadas de mundo e propagado através de Fake News.

Para que definitivamente haja mudanças no jogo politico deve haver mudanças de enfoque na abordagem das grandes questões nacionais, problemas seculares como educação e distribuição de renda, uma imensa massa de população com níveis baixos de educação ou analfabetos e jogados a margem da sociedade em um sistema que concentra a riqueza em uma parcela pequena da população. O Brasil é o 9° pais com a maior concentração de renda do mundo, 10 % da população concentra 43 % da riqueza (fonte IBGE 2020), isso leva a um imenso desafio, o desafio de vencer uma classe dominante enraizada no poder a séculos e que mantêm um domínio muito grande dos meios de produção, dos bancos e das mídias.

Na esquerda brasileira nota-se grande divisão cada um com seus interesses partidários de poder acima da causa geral única, não ha um consenso de uma politica e de um plano único para as próximas eleições, muito se fala da formação de uma Frente Amplia

A esquerda no Brasil e as eleições, passado o momento crítico entre 2016 e 2018 onde houve uma derrocada dos partidos de esquerda embalada pelo impeachment da presidente Dilma e pela ascensão da direita e principalmente de Jair Bolsonaro, passado esse período de turbulência e grande descrédito frente a opinião pública agora vemos um tímido crescimento das bases e a volta de algumas mídias a dar ênfase em seus projetos para o Brasil.

Cabe urgente autocrítica a esquerda principalmente quando do período que estava no poder onde teve grande aproximação da direita e de grandes grupos econômicos que levaram-lhes a perda da essência e da convicção e o apoio de suas bases que acredito era seu bem mais precioso. Esse afastamento de suas bases levou ao abandono de seus programas históricos de reivindicações da sociedade levando a dissidências que culminaram com a expulsão de quadros históricos do PT  (Partido dos Trabalhadores) levando a em junho de 2004 a fundação do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) que nessa última eleição elegeu vereadores em muitas cidades importantes e tem seu candidato no segundo turno na eleição de São Paulo.

De maneira geral houve um ganho para a esquerda nessa eleição talvez se preparando e antevendo a eleição de 2022, partidos de centro esquerda como PDT (Partido Democrático Trabalhista) ainda se mantêm como partido importante e forte para a eleição presidencial através de Ciro Gomes, o PT antes o mais importante partido de esquerda continua sem fazer a sua autocritica e não teve bons números nem ganhos políticos nesse pleito, mas de forma geral a esquerda já mostra uma reação com crescimento do PCdoB (Partido Comunista do Brasil) e principalmente do PSOL.

Na esquerda brasileira nota-se grande divisão cada um com seus interesses partidários de poder acima da causa geral única, não ha um consenso de uma politica e de um plano único para as próximas eleições, muito se fala da formação de uma Frente Amplia, mas as vaidades dos grandes caciques do poder não permitem que ninguém abra mão de ser o líder dessa frente, assim sendo fica difícil dizer se a esquerda vai chegar forte e unida ou dividida e fraca daqui a 2 anos. Acredito que haverá até a próxima eleição um forte crescimento dos partidos de esquerda no Brasil embalados pelo desgaste e enfraquecimento do atual modelo de governo e pela perda do encanto rápido pelo presidente Jair Bolsonaro, cabe a esquerda apenas sentar e procurar um programa comum de governo e chegar a um consenso de quem a representará nas urnas.


Artigo publicado en Nós Diario, o 28 de novembro de 2020.

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